III – Os Sacramentos 1.- Sinais, Símbolos, Sacramentos.

III – Os Sacramentos

1.- Sinais, Símbolos, Sacramentos.

             Foi-nos ensinado a existência de sete sacramentos, a saber: batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio. Para entendermos melhor o significado de Sacramento precisaríamos responder algumas perguntas.
             Porque sete e não mais Sacramentos? No que um sacramento se difere de outras atividades litúrgicas, paralitúrgicas ou devocionais, como por exemplo, a profissão religiosa? Os sacramentos somente existem na Igreja católica ou são aceitos também por outras Igrejas cristãs? E o que dizer de religiões não cristãs? Enfim o que é um sacramento e quais são suas características? Refletindo sobre esta última pergunta esperamos encontrar o caminho para responder também as outras.
            Entretanto é conveniente que antes de iniciarmos nossa reflexão sobre sacramento propriamente dito, reflitamos sobre sinal e sobre símbolo. Comecemos com o sinal.
             O sinal caracteriza-se por ser um objeto ou uma ação que indica outra. Em toda nossa existência usamos continuamente dos sinais e não poderíamos nos comunicar sem os mesmos. Os sinais podem ser naturais, artificiais ou convencionais. Poderíamos encontrar divisões mais complexas e elaboradas, mas para o nosso objetivo esta nos é suficiente.
              Como exemplos de sinais naturais têm a dor que nos indica que existe algo errado em nosso organismo, a fome que nos diz que precisamos nos alimentar, aqueles constatados em exames de laboratório tão úteis para conhecermos o nosso organismo e providenciarmos tratamento se necessário. Da mesma maneira a fumaça, que nos dá consciência de que algo está queimando, as nuvens carregadas, sinal de chuva ou o som emitido por certos animais, que nos fazem identifica-los, mesmo não os estando vendo e tantos outros, são sinais naturais.
               Agora o som do despertador, a sirene dos bombeiros, o ronco de um motor e outros são sinais artificiais por serem emitidos por artefatos criados pelo homem. Entre estes merecem atenção especial os sinais convencionais porque agregam um significado que lhe é conferido pelo homem e é aceito por outros homens.
               Como exemplos de sinais convencionais têm entre outros: o gesto de positivo ou negativo feito com as mãos, o”v” da vitória e muitos outros gestos similares. Temos também o semáforo, no qual a luz vermelha significa pare, a luz amarela, atenção e a verde siga. É importante notar que sendo estes sinais determinados por convenção, nem sempre são válidos para todos os países e todos os grupos humanos.
               A comunicação entre os homens, embora possa ser realizada de diversas maneiras, é através da linguagem que atinge sua perfeição. A linguagem escrita através de sinais gráficos nos indica o som que é utilizado pela linguagem oral, esta por sua vez traduz em palavras, sentenças e orações, o próprio pensamento transformando-o em mensagem a ser transmitida aos outros homens.   
                Na linguagem uma mesma palavra pode ter dois ou mais significados como, por exemplo, quando dizemos “Aquele rapaz é um touro” ou “ Pintado, é um touro da raça Gir”. Por outro lado uma mesma coisa pode ser nomeada de diversas maneiras como, por exemplo, mãe, madre, mother, mama dependendo da linguagem que estamos utilizando.
                É necessário muito cuidado e atenção quando utilizamos as palavras para não acontecer de sinalizarmos uma realidade diferente da que queremos, o mesmo se dá na interpretação das mensagens que nos são dirigidas.
                Não se pode exagerar a importância da linguagem para o homem, pois é a linguagem que distingue o homem do animal. Seu estudo pertence a lingüística, a gramática, a filosofia da linguagem e outras áreas do conhecimento. Basta-nos afirmar sua importância e seu aspecto sinalizador que nos permite conhecer os pensamentos dos homens, permitindo assim a comunicação humana.
                 Sem nos aprofundarmos no sentido e no significado do símbolo, o que, aliás, já foi feito a exaustão por inúmeros pensadores, queremos notar que “O símbolo distingue-se nitidamente do sinal. Enquanto a relação do sinal com a realidade por ele significada é meramente artificial ou convencional, o Símbolo contém de algum modo, aquilo que exprime como Símbolo”. (Manuel da Costa Freitas na Enciclopédia Logos coluna 1132, verbete Símbolo).
                Num espaço intermediário entre sinal e símbolo, podemos considerar logotipos de diversos produtos apresentados na mídia que nos fazem lembrar imediatamente do produto indicado, mas estes logotipos permanecem artificiais e exteriores, sendo, portanto sinais e não símbolos.
                Para compreendermos melhor a diferença existente entre símbolo e sinal, focalizaremos as cerimônias de premiação de uma prova esportiva, quando a bandeira nacional é elevada no mastro ao som do hino nacional, somos tomados de grande emoção, se a referida bandeira é aquela que simboliza o nosso país. A bandeira e o hino são símbolos nacionais, mas apenas para os cidadãos de determinada nação. Cada nação possui uma bandeira, um hino e outros símbolos que a representam.
               Assim como as nações, clubes esportivos, entidades carnavalescas e muitas outras também podem ter bandeiras com símbolos.
               Inúmeros são os símbolos usados pelos homens em suas relações, mas o que tem grande valor para alguns, não significa nada para outros. Nós encontramos símbolos em todas as atividades humanas, mas principalmente na política, nos esportes, nas artes e na religião.
               Não resta dúvida de que a imensa maioria dos homens, senão sua totalidade acredita na existência de realidades que não podem ser percebidas pelos nossos sentidos, nem provadas ou negadas pela ciência ou pelo pensamento abstrato. A estas realidades damos o nome genérico de realidades místicas ou espirituais. Para se relacionar com as mesmas realidades, o homem utiliza do pensamento mitológico que é essencialmente simbólico. O relato da origem do homem e aquela da origem do Universo são transmitidos por diversas versões, conforme o povo que a transmite, conforme a cultura de cada povo, mas sempre querendo dar uma explicação de como tudo começou, recorrendo para isto de diferentes simbolismos.
                 O que para membros de determinadas culturas constitui em uma realidade mais evidente e mais fundamental do que a realidade vivida no dia a dia, para outras pessoas que não fazem parte daquele povo, não passa de fantasia e de ignorância; isto porque, não possuindo a mesma cultura, não conseguem entender as tradições e costumes que sejam diferentes das suas.
                 O estudo sobre as crenças e os mitos dos povos chamados primitivos tem sido realizado por muitos antropólogos e outros pensadores, de maneira que não precisamos estender em nossas considerações sobre as suas crenças. Eu gostaria, no entanto, de tecer algumas poucas considerações sobre as crenças e costumes enraizados no catolicismo popular.
               Tendo necessidade de tornar mais concreta a sua crença, o fiel recorre a imagens, sortilégios, bênçãos, novenas, etc. para assim entrar em contato com a divindade ou com um santo de sua devoção, tudo isto dentro de uma perspectiva simbólica, pois o fiel sabe, por exemplo, que a imagem que se venera não é o santo, mas apenas uma representação, o que torna mais fácil sua comunicação com o santo de sua devoção. Quem o observa de fora pode acusá-lo de idolatra, o que é uma acusação leviana e injusta. Lembremo-nos de que diversas vezes e por diversas maneiras Cristo nos adverte para não julgarmos. Da mesma maneira devemos suspender nosso julgamento quando se trata de pessoas pertencentes a outras religiões.
              Encontramos em todas as religiões inúmeros símbolos religiosos, quanto a isto cremos que estamos de acordo. Mas, e o sacramento no que se difere dos demais símbolos religiosos, o que o faz ser diferente? Vejamos
              O relacionamento entre Deus e o homem deve ser um relacionamento regido pelo amor, no qual o homem conforma seu viver a vontade do Criador, renunciando seus próprios caprichos e desejos, mas sem renunciar sua própria liberdade. Para se conseguir um perfeito equilíbrio neste relacionamento torna-se importante um diálogo contínuo regido pelo amor. Este Diálogo, cuja iniciativa pertence a Deus que nos vocaciona a todos o sermos santos, deve ser livremente respondido pelo homem ao declarar sua fidelidade ao próprio Deus.
               É no seio da Igreja, Corpo Místico de Cristo, que este diálogo de amor e fidelidade deve ser realizado. Todo esse relacionar-se do homem com Deus é expresso através de símbolos que nos leva a acreditar na realidade do imenso amor de Deus e na frágil correspondência dos homens. Sempre que se torna real um relacionamento amoroso, há momentos de maior intensidade e intimidade, ora esses momentos tornam-se visíveis através dos símbolos sacramentais. Podemos concluir que é nos e através dos sacramentos que ao homem é dado sentir e viver, mais intensamente, a intimidade de seu encontro amoroso com Deus.
              O sacramento, portanto é o símbolo que torna presente e visível aos olhos de nossa fé essa intimidade de amor que se concretiza no seio da Igreja. De acordo com o catecismo da Igreja Católica, os Sacramentos são “sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados a Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida e graça divina”(n.224). Daí o ser necessário que a própria Igreja reconheça determinado ato simbólico de caráter religioso como um sacramento,
               A Igreja católica reconhece sete sacramentos, algumas igrejas cristãs reconhecem os mesmos sete sacramentos, outras apenas dois sacramentos, o batismo e a ceia do Senhor, enfim, o número de sacramentos aceitos pelas diversas igrejas cristãs varia de acordo com a interpretação de cada uma acerca dos ensinamentos de Cristo.
              Com relação as religiões não cristãs, embora não se possa falar propriamente de sacramentos, existem procedimentos simbólicos que para os seguidores de determinadas religiões podem ter um significado equivalente ao dos sacramentos para os cristãos.


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