6. – A elevação ao
sobrenatural e a reincorporação em Cristo
O homem, ser
– consciente, não possui em si direito a existência. Sua criação deve-se
exclusivamente a um ato de puro amor de Deus, que livremente decidiu criar os
seres contingentes e sustenta-los na existência, para participarem do Ser.
Mais que sua
própria existência, o homem deve agradecer a Deus pelos inestimáveis dons da
Consciência e da Liberdade, pelos quais é capaz de conhecer-se como existente e
de certo modo contribuir para a formação de seu próprio eu e de decidir seu
próprio destino.
Embora dependendo totalmente de Deus, o
homem é destinado pelos dons que pertencem a sua própria natureza, a
desempenhar missão singular e proeminente no Reino da Criação, sendo capaz de
prestar honra e gloria ai Criador, não apenas em virtude de sua participação no
Ser, mas através de atos conscientes e livres.
Estes atos de
honra e gloria a Deus, em nome de toda a natureza, não são por si próprios
dignos da imensidade e da magnificência do Criador. Sempre permaneceria um
abismo intransponível entre criatura e Criador, caso este não houvesse
determinado estabelecer uma ponte sobre esse abismo, para de certa maneira o
suprimir.
Ao assumir a
natureza humana, o Verbo divino sem a destruir ou a modificar, de certo modo a
diviniza. O homem Cristo, permanecendo verdadeiro homem, por estar unido ao
Verbo, é tomado de tal maneira pelo divino que toda a sua natureza é elevada, a
ponto de constituir-se numa única pessoa, na qual o humano e o divino coexistem
em suas integralidades essenciais.
O ato da
Encarnação, não causou apenas a elevação da natureza humana em Cristo, causou
também a elevação de toda a humanidade, não da mesma maneira, nem com a mesma
intensidade. Enquanto em Cristo, a natureza humana é hipostaticamente unida à
natureza divina, o que significa estar total e indissoluvelmente ligada à
natureza divina; nos demais homens a natureza humana é elevada a maneira de
participação. Participação em Cristo e na Graça de Cristo, através das quais os
homens são incorporados misticamente em Cristo e por Cristo e são adotados pelo
Pai como filhos co-herdeiros de Cristo.
Através do
pecado, no entanto o homem torna-se indigno dessa filiação adotiva e é separado
desse mesmo Corpo Místico. Com essa separação, o homem não retorna ao simples
estado natural, mas a um estado de natureza decaída, em virtude de sua
responsabilidade pelo pecado cometido consciente e livremente.
A queda do
pecado é por si tão grave que o homem embora, conservando a sua natureza
essencialmente inalterada, é incapaz de por si próprio conseguir o perdão de
sua falta.
O pecado
original, embora afetando originalmente todos os homens, anulando a
participação na graça de Cristo, não afeta a própria pessoa de Cristo, pois
como vimos em Cristo, a natureza humana e a divina encontram-se total e
indissoluvelmente unidas, enquanto que nos demais homens, a união entre o
humano e o divino é apenas união de participação.
A redenção
restabelece a relação entre o homem e Cristo, tornando-os novamente membros de
seu Corpo Místico e co-herdeiros do Pai.
Mas, como o homem
livremente escolheu a separação do Corpo Místico, agora necessita também
livremente, aceitar a sua reincorporação, aceitando participar da morte de
Cristo, através do batismo, para com Ele ressurgir gloriosamente para a vida
Eterna.
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