8. A existencial situação do homem na economia salvífica

8. A existencial situação do homem na economia salvífica

               Em virtude da elevação da natureza humana, de sua queda e de sua reelevação a esta mesma ordem sobrenatural, é irreal considerar o homem em sua situação existencial, limitando-nos ao aspecto puramente natural e abstraindo-se, em nossas considerações, do fato primordial da Cruz.
               Como os efeitos do Calvário não se limitam aos acontecimentos transcorridos depois da morte de Cristo, mas penetram todo o histórico, podemos dizer que mesmo em Adão, a partir do momento em que o Messias é prometido, o estado existencial do homem é um estado  de ser-Remido.
              As existências de todos os homens, mesmo daqueles que recusam a própria reincorporação em Cristo e daqueles que escolhem sua exclusão do Corpo Místico, deve ser considerada em relação ao próprio Cristo. Porque no Calvário, todos os homens são chamados a participarem deste Sacrifício; a aceitação deste chamado torna o homem membro de Cristo, a sua recusa o exclui do Corpo Místico, relacionando-o negativamente a Cristo.
              Pela Encarnação, toda a natureza humana é elevada ao sobrenatural; pela Redenção, toda a natureza humana é remida e o estado sobrenatural é reconquistado para todos os homens. Assim. A recusa de determinado indivíduo em aceitar a Redenção é contra a economia salvífica e, portanto, pecado contra Cristo.
              Assim aqueles homens que não são contados entre os membros do Corpo Místico, devem ser considerados não como indivíduos em puro estado natural, mas como indivíduos a quem a re-elevação ao sobrenatural foi oferecida, mas ou recusaram-na ou a rejeitaram depois de a terem aceitado, escolhendo existirem separados do Corpo Místico, o que significa existir responsável pela perda da elevação sobrenatural e da própria não-participação na Graça de Cristo.
               Os que recusam o batismo são elevados negativamente ao sobrenatural; os que existem fora do Corpo Místico, estão de maneira negativa relacionados a Cristo. Porque Cristo ao conquistar o pecado e a morte traz a salvação aos homens, que não a podem ignorar, ou aceitam-na ou recusam-na; tornando-se seus irmãos ou seus inimigos.
               Em conseqüência temos que ao agir, o homem age através da natureza elevada ao sobrenatural, tornando seus atos, positiva ou negativamente sobrenaturais. Um ato  de virtude, praticado no seio do Corpo Místico tem conseqüências positivas na ordem sobrenatural, contribuindo para a santificação de quem o praticou e para a santificação de todo o Corpo Místico; o pecado, sempre traz conseqüências negativas, quer para o individuo, afastando-o de Cristo, quer para o próprio Corpo Místico, impedindo a livre circulação da Graça de Cristo. Os atos cometidos por aqueles excluídos do Corpo Místico, sempre produzem efeitos negativos em relação a sua própria pessoa, embora não cremos que tenham conseqüências nefastas no Corpo Místico, pelo simples fato de serem cometidos por quem não lhe pertencem.
                 Ao falarmos acerca de pessoas excluídas do Corpo Místico, referimo-nos apenas aquelas pessoas que não aceitam sua própria incorporação no Corpo Místico ou que escolhem sua definitiva exclusão do mesmo, não nos referimos aqueles que através do pecado tornam-se membros mortos, pois estes permanecem sendo membros de Cristo, uma vez que podem ser ressuscitados para Cristo, através da Graça e dos Sacramentos.
                 É na participação na existência de Cristo que percebemos a distinção entre as ordens naturais e sobrenaturais. Caso o homem não tivesse sido elevado ao sobrenatural, continuaria por sua natureza a praticar os mesmos atos, de que é capaz em sua existência pessoal, mas esses atos permaneceriam estritamente limitados a esfera espácio-temporal e o homem não seria capa de participação na existência de Cristo.
                A participação na existência de outro ser, no nível puramente natural, ou limitar-se-ia a participação no acidental, ou traria como conseqüência a destruição da identidade individual e, portanto a destruição do próprio ser, enquanto ser distinto do ser em que participa. A elevação a ordem sobrenatural, embora permitindo o homem participar na existência divina, deixa intacta sua identidade pessoal, porque sua natureza não é modificada e nem absorvida pela natureza divina.
                É o contato pessoal, entre Deus e os homens que caracteriza a união mística. Sem a união mística o homem continuaria a ser sustentado na existência por Deus, mas suas relações permaneceriam no nível de relações entre criaturas e Criador e não no nível de relações pessoais, que são essencialmente relações entre amigos,
                Apenas o Ser necessário possui o ser em toda a sua plenitude e perfeição, por encontrar em si a razão e a causa de seu próprio ser, o ser contingente, encontrando seus fundamentos no Ser necessário, é reduzido a ser de participação e, portanto, contendo em si limitações que caracterizam a finitude de suas perfeições. Perfeições que se constituem em pálidos reflexos das perfeições do Ser necessário.
                 A Criação, colocando os seres contingentes na existência, os torna participantes no Ser; a elevação ao sobrenatural, propicia ao homem participar na própria existência da divindade. O participar na Existência, não confunde as existências dos homens com aquela de Deus, pois Deus possuindo a existência divina em-si, a possui em toda a sua plenitude e perfeição, enquanto que os homens participam desta mesma existência divina, participam na existência que não é sua própria e, portanto participam da existência divina, não em plenitude, mas limitada e imperfeitamente. Aliás, a própria noção de participação compreende noções de limitação e imperfeição.       
               Assim, como os seres participam do Ser, participam de diferentes modos e com diferentes intensidades, assim também, os homens ao participarem da Existência divina, participam de diferentes modos e com diferentes intensidades. Diverso é o modo de participação de quem se encontra unido ao Corpo Místico através do batismo sacramental ou do batismo de desejo, de quem é confirmado, de quem recebeu o caráter sacerdotal, etc.
               A intensidade na participação, entretanto, não está necessariamente relacionada aos modos de participação. Depende da maior intimidade existente entre o indivíduo e o Criador, intimidade que é característica da maior ou menor perfeição alcançada no caminho em busca da santidade.


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