9. - A Vida Consagrada

9. - A Vida Consagrada

         A Igreja católica não inclui a vida consagrada entre os sacramentos, mas sua importância para o crescimento e a manutenção viva da religião é tão grande que decidimos considerá-la neste estudo. 
         Na história das religiões, sempre encontramos pessoas que procuram viver um maior contato com as realidades espirituais e em sua existência vivem uma procura incessante por aquilo que ultrapassa o puro viver cotidiano com suas exigências materiais e sociais. A este tipo diferente de viver damos o nome de Vida Consagrada.
           A vida consagrada pode ser vivida, individualmente como os eremitas ou, em comunidades como os cenobitas.
        Como exemplo da vida eremítica, temos os eremitas dos primeiros séculos do cristianismo, que se isolavam em lugares desérticos para evitar as tentações que poderiam encontrar no contato com os habitantes de cidades e povoados; também podemos citar entre os hindus, os renunciantes “sadhus”, que embora vivendo em meio à multidão seguem uma espiritualidade que lhes é própria.
           Porém, a maioria dos que querem um viver mais voltado para as realidades espirituais e, menos para aquelas realidades assim chamadas materiais, faz sua opção pela vida cenobítica.
           A vida cenobítica é realizada através de entidades, a que damos o nome geral de ordens ou congregações. Estas se caracterizam pela vida em fraternidade e pelos votos professados pelos seus membros. Estes votos ou promessas solenes são inúmeros e, divergem conforme a congregação pertença a uma ou a outra religião, divergindo mesmo entre congregações da mesma Igreja.
           Dentre estes votos há três que integram praticamente todas as formas de vida consagrada: são os votos de obediência, pobreza e castidade.
           Pelo voto de obediência o candidato renuncia o seu querer, colocando-o nas mãos de um superior todas as decisões importantes de sua vida; pelo voto de pobreza renuncia a posse de bens materiais, passando a viver ou da providência da própria fraternidade que lhe proporciona o que é necessário para uma vida simples ou, vive da caridade dos leigos; pelo voto de castidade renuncia aos prazeres do sexo e, principalmente, a possibilidade de constituir uma família e gerar herdeiros que prolongariam sua existência neste mundo.
           A vida consagrada tem como objetivos principais o crescimento espiritual do religioso e o contato místico com a divindade. Para alcançar estes objetivos, diversos são os meios utilizados: sacrifícios, inclusiveis corporais; jejum e abstinência; oração e meditação; trabalho manual e intelectual; estudo e muitos outros.
           Em muitas religiões é comum e importante a prática da vida religiosa. Vejamos alguns exemplos.
           No pitagorismo: A comunidade pitagórica de Crótons, Itália, foi a primeira organização no ocidente, com as formas orientais de religião e prática intensa de ritos de purificação.
           Os mistérios, cujo equivalente latino é sacramentos, consistiam em cerimônias, não apenas simbólicas, mas consideradas eficazes espiritualmente.
           O mais significativo dos mistérios praticados pelos pitagóricos era o batismo. Outro, bastante destacado, era o da unção do óleo aos doentes, ou extrema unção.
           As comunidades religiosas surgiram no oriente, e só tardiamente passaram ao Ocidente, onde a comunidade pitagórica é um primeiro sinal.
            No Judaísmo merece destaque a comunidade dos Essênios         que já celebravam os mistérios ou sacramentos, pregando a penitência dos pecados e usando o batismo com símbolo de purificação dos mesmos. Os essênios praticavam a comunidade dos bens, o celibato e o curandeirismo; pregavam a justiça e a caridade.  
            No islão o sufismo é uma forma de misticismo que pretende alcançar um contato direto com Deus através de uma série de práticas que incluem o ascetismo e a meditação.
            Desde o século XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas) que seguem os métodos ensinados por um determinado mestre (os xeques ou pirs). As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no xiismo.   
            O jainismo considera a vida monástica como o ideal de vida dos seres humanos. Há monges e freiras tanto entre os Svemtambara como entre os Digambara, sendo que estes últimos são mais austeros e rigorosos em sua prática. A entrada para a vida monástica é autorizada a partir dos sete anos, mas em geral acontece mais tarde. Os leigos jainas devem observar oito regras de comportamento e tomar doze votos. Entre os quais fazer donativos aos monges e aos pobres.
           Os budistas consideram a vida monástica como um dos ambientes mais propícios para avançar para a iluminação. A característica principal do budismo monástico é aceitar um conjunto elaborado de normas de conduta que incluem total castidade, e alimentação somente após o meio dia. Entre o meio dia e o dia seguinte uma vida estrita de estudo das escrituras, cantos, meditação e ocasionalmente trabalhos de limpeza e outros necessários à sangha.  
           No xintoísmo mulheres virgens a quem se dá o nome de mikos levam uma vida monástica e ajudam os sacerdotes na execução dos ritos nos templos e executam danças sagradas.
            Entre os cristãos a vida religiosa encontra-se em maior número entre católicos e ortodoxos, mas, existem também congregações evangélicas. A diversidade da vida religiosa é muito grande e vai desde a vida contemplativa, em que irmãos e irmãs vivem enclausurados, até os institutos seculares cujo modo de viver pouco se diferencia de leigos engajados na pastoral.   
            Em sua maioria, porém as ordens e congregações optam por um estilo de vida apostólico, no qual se procura atender as necessidades da Igreja e da população em geral, principalmente dos mais carentes, de acordo com a opção preferencial pelos pobres. A atuação dos religiosos consagrados realiza-se nos mais diversos campos de atividade, tais como, escolas, hospitais, creches, asilos, imprensa, universidades, entidades de cunho social e cultural, comunidades paroquiais, etc. Não se descuida, porém, da vida fraterna, da oração, da meditação e do culto.
          O religioso frequentemente usa vestes e adereços que os distinguem dos leigos, mas, o que mais os distinguem é sua forma de vida; há consagrados que não usam vestes diferenciadas. O religioso, pelo simples fato de ser consagrado, é apontado pelos fiéis como exemplo a ser seguido.
            Do religioso espera-se uma conduta ilibada e de ser capaz de orientar e aconselhar os leigos em questões religiosas. Quando uma pessoa consagrada age de maneira imoral ou indecorosa, causa grande escândalo e pode prejudicar o viver religioso de toda a comunidade, daí sua grande responsabilidade. 
             O ambiente da vida em fraternidade com suas atividades voltadas para o crescimento espiritual de seus membros, propicia um grande aprofundamento da vida mística e, com ele o surgimento de grandes místicos.
              Na Igreja católica podemos citar entre outros; São João da Cruz, Santa Tereza D Ávila, Mestre Eckart, São Boaventura e São Francisco de Assis. Nas Igrejas orientais é a constante prática da meditação e da Ioga nas fraternidades religiosas que propicia o contato místico do religioso com o que poderíamos chamar, genericamente, de divindade.
           A importância da vida consagrada para as religiões não pode ser desconhecida, pois o viver em fraternidade, suas normas e regulamentos permite um maior e mais vívido conhecimento  das coisas que nos ligam com Deus e com o místico, libertando-nos das cadeias que nos prendem ao material e ao rotineiro.      

            A vida consagrada propicia uma experiência existencial do que é realmente importante para nossa vida. A nossa inserção no Corpo Místico.

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