2.- Historicidade e Misticidade

2.- Historicidade e Misticidade
       
               Ao afirmarmos o homem como ser-místico, referimo-nos ao fato de que em sua existência temporal, cada indivíduo está, ao menos potencialmente, relacionado com o Corpo Místico de Cristo.
               A união mística dos homens entre si, em Cristo e com Cristo, não elimina a unidade interior de cada homem, porque a relação mística é relação entre pessoas.
              Relação toda interior, existente entre seres conscientes e livres, resultante da participação de cada membro na Pessoa de Cristo, através da Graça. A união mística não pode ser reduzida a mera união moral, mas é união real e existencial, fundamentada na relação pessoal entre o homem e Deus, através de Cristo, o homem-Deus.
              A misticidade unindo os homens entre si e com Cristo, no mais profundo interior do ser humano, torna as relações entre os homens mais profundas, fazendo com que mesmo ações realizadas no interior de cada alma, tenham conseqüências em todo o Corpo místico. Embora a responsabilidade de cada ato pertença exclusivamente a quem o praticou.
              A influência mística exerce-se no próprio interior do homem, mas não destrói sua Liberdade, a destruição da Liberdade seria destruição da Misticidade, porque a relação mística é relação entre pessoas, uma relação que é fundamentada em Liberdade e Consciência.
              Assim como o homem, enquanto ser – temporal, é um ser – histórico, assim também, o Corpo Místico de Cristo, enquanto realizado no temporal, é caracterizado pela historicidade. A historicidade do Corpo Místico, entretanto não se fundamenta na historicidade de cada um dos seus membros, como acontece com a da sociedade. Ao contrario, fundamenta-se na mística participação dos membros na existência histórica de Cristo. A historicidade do Corpo Místico é centralizada na historicidade de Cristo, mas não se confunde com esta. É realizada em cada um dos membros, em virtude da mística união que os torna “um com Cristo”.
               O homem existe em determinada época, seu pensar e suas ações estão integrados nesta época: a existência do Corpo Místico desenrola-se através da história; tem seu início com a criação do primeiro homem, seu fim temporal com a Parusia.
                Ao considerarmos a historicidade de determinado indivíduo, constatamos ser membro da sociedade de determinada época e, como esta, herdeiro das culturas e civilizações do passado, bem como ancestral das culturas e civilizações do futuro.
Em relação a este indivíduo, o centro da história coincide com sua época, é nessa época que deve existir, realizando a sua parte no realizar-se da história,
               Ao considerarmos a historicidade do Corpo Místico, verificamos ser o centro da história, em relação ao Corpo Místico, a existência histórica de Cristo. Em Cristo, toda a história se concentra o acontecido anteriormente é preparação; posteriormente, complementação.
                A historicidade do Corpo Místico, não pode ser compreendida, a não ser considerando-á em relação a historicidade da pessoa de Cristo. A pessoa de Cristo é transcendente ao Corpo Místico, a realidade e a existência do Corpo Místico fundamentam-se na pessoa de Cristo. Assim, a historicidade do Corpo Místico sendo distinta da historicidade de Cristo, é nesta fundamentada.
                 “E o Verbo se fez carne”. Na Encarnação, duas naturezas, a humana e a divina são hipostaticamente unidas na pessoa de Cristo: na Encarnação, eternidade e temporalidade se encontram. O Verbo existe na eternidade; assumindo a natureza humana, Cristo passa a existir no temporal.
                 A historicidade de Cristo deve ser entendida em relação quer a sua temporalidade, quer a sua eternidade. No temporal, Cristo existiu na Palestina e continua a existir em nossos tabernáculos; Cristo, homem - Deus existe na Eternidade.                
                 Enquanto temporal Cristo é o centro da História, enquanto eterno lhe é transcendente e imanente. Transcendente porque não condicionado ou limitado pelo histórico; imanente porque o penetra e o sustenta.
                Ao considerarmos a historicidade de Cristo, não a podemos fazer da mesma maneira que o fazemos com a de outro homem, porque embora Cristo seja dotado de natureza humana, esta, em sua Pessoa, encontra-se intimamente unida com a natureza divina. Assim sendo, Cristo em sua existência histórica estabelece a ligação entre o temporal e o eterno. Cada um de seus atos, conquanto realizados no temporal, tem conseqüências eternas. Enquanto temporais, os atos realizados por Cristo, o foram em determinados momentos, que em relação a estes em que vivemos, situam-se no passado, mas que em realidade quando foram vividos por Cristo, o foram no presente.  

                  Sendo Cristo o centro do histórico, é em relação ao seu existir, que devemos considerar a sucessão temporal. Assim, a existência de Cristo, sua presença no histórico, é o presente da história; a época anterior a Cristo, o passado da história, a Era cristá, o futuro.  

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