II – A Historicidade do
Corpo Místico de Cristo
1.
– Introdução
Num estudo
introdutório sobre a Historicidade do Corpo Místico de Cristo é necessário
considerar, brevemente, a noção de historicidade do homem. Inicialmente devemos
focalizar nossa atenção na historicidade do indivíduo em particular. Quando
afirmamos que o homem é um ser histórico nos referimos ao fato de que o homem
no seu existir temporal, integra-se na sociedade de determinada época,
relacionando-se com homens e sociedades, quer passadas, quer futuras.
A sociabilidade
humana é a relação existente entre o indivíduo e a sociedade de sua época,
entre o indivíduo e outros indivíduos da mesma
época. A historicidade pressupõe e inclui a sociabilidade.
Ser - social, o
homem relaciona-se com o homem através da dimensão espacial, ser – histórico, a
relação entre os homens processa-se, também, através do temporal.
Em seu existir
temporal, o indivíduo encontra-se com uma série de acontecimentos que se
desenrolam em sucessão incessante. Cada momento tem seu início no futuro, passa
pelo presente e vai sepultar-se no passado. No entanto, acontecimentos que
ainda não se realizaram, irão ser vividos no presente; acontecimentos já
realizados foram vividos no presente. Em relação a determinada pessoa, portanto,
no instante presente, todo o passado e todo o futuro se concentram, como se o
que é essencialmente sucessão, coexistisse simultaneamente. Para cada
indivíduo, o instante presente, considerado sob o aspecto de sua
espácio-temporalidade, se constitui no centro da imensidade espácio-temporal.
Esta afirmação
tornar-se-á mais clara se considerarmos certos momentos decisivos que
transcorrem na vida de todo homem. O nascimento de uma criança é para ela o
nascimento de todos os outros seres. Mas, são seus familiares e principalmente
sua mãe, que melhor captam a importância do momento, nos meses anteriores ao
nascimento, o agir de sua mãe e até certa extensão dos demais membros da
família, tinha sido determinado pelo futuro bebê, da mesma forma, em seus
primeiros meses de vida, ele será o centro de convergência das atividades
familiares. O nascimento é um desses instantes decisivos em que passado,
presente e futuro se concentram.
Na vida
espiritual é igualmente no presente que decidimos nossa resposta a Deus com o
sim do amor, pela recusa ao pecado, pela prática de virtude e pelo
arrependimento, ou com o não do ódio pelo pecado. Esta decisão quando
confirmada no momento da morte é confirmada na Eternidade. Se muitos são os
instantes decisivos, a própria morte é o instante decisivo.
A decisão de
um homem, realizada no presente é influenciada pelo que ele realizou no
passado, pelo que ele projeta para o futuro. Porque ser-intra-mundano, social e
histórico, seu decidir e seu agir é condicionado e tem conseqüências no mundo,
na sociedade e na história,
Da mesma
forma que o indivíduo, também a sociedade é histórica. Assim como, nas
sociedades do passado encontram-se os fundamentos da sociedade atual, esta se
desenvolverá nas sociedades do futuro. Mas, embora a sociedade de uma época
esteja intimamente ligada com as sociedades de outras épocas, cada sociedade
apresenta características que lhe são próprias.
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