9. – A Graça, um diálogo de
amor.
Durante a leitura
destas páginas, muitas vezes o leitor encontrou o termo “Graça” designando algo
de importante nas relações com e no Corpo Místico. Torna-se importante uma
breve reflexão, que clarifique os sentidos em que este termo é usado neste
trabalho.
Muitos autores
dedicaram muito tempo e trabalho refletindo sobre o tema da Graça resultando
inúmeros tratados sobre o mesmo. Não iremos retomar estas reflexões, apenas
focalizaremos nossa atenção sobre o aspecto dialogal da Graça.
Na relação
homem-Deus, ou melhor, Deus-homem é que encontramos a realidade da graça. Como
um dom gratuito de Deus ao homem que transforma a natureza humana tornando-a
mais pura e tornando-a mais apta para melhor relacionar-se com o próprio
Deus.
Este dom não é algo
que se acrescenta à natureza humana modificando-a, ou como um presente que lhe
é conferido. De modo algum tem as características de uma coisa, mesmo que esta
seja de natureza espiritual.
A graça, dom gratuito
de Deus é o próprio relacionar-se amoroso que se realiza no diálogo iniciado
por Deus ao declarar para uma determinada pessoa “Eu te amo”. A resposta do
homem deve ser dada por uma vida norteada pelo amor ao próprio Deus e aos seus
semelhantes.
Para viver uma vida
na graça divina, isto é, no amor divino é necessário ao homem evitar o pecado e
abraçar o amor cumprindo as exigências da Lei de Cristo.
Num viver, em que
impera o diálogo amoroso entre dois amantes há momentos especiais em que o
relacionamento amoroso se torna mais intenso. No Corpo Místico de Cristo estes
momentos especiais são vividos nos Sacramentos.
Para ilustrar o
raciocínio acima, vamos supor duas pessoas que se relacionam entre si num
diálogo amoroso, tipo da relação “Eu-Tu”. Podem ser esposos, pai (mãe) e filho
(a), irmãos ou simplesmente amigos: o importante é que entre eles haja respeito,
confiança e amor.
Neste caso, cada
um dos dois conhece os sentimentos do outro para com ele, mas é necessário que
este sentimento seja expresso, pelo menos ocasionalmente, de uma maneira
concreta.
Uma maneira de
expressar este sentimento é através de um presente. Não importa qual presente,
seu valor utilitário, estético ou econômico; o importante é que seja sincero
expressando o amor de um pelo outro, não um simples ato social ou uma dádiva
interesseira. Quando o presente é dado com amor, uma simples flor vale mais do
que uma jóia caríssima ou um carro de último tipo, porque ao doar com amor e
sinceridade, o objeto doado é simbólico, ao presentear presenteia-se a si
mesmo. É como se dissesse “eu sou seu”.
Similarmente, consideremos
agora uma homenagem. Quando homenageamos alguém, vivo ou morto, é porque
reconhecemos que realizou algo de valor e merece nosso reconhecimento. Neste
caso, nem sempre conhecemos a pessoa do homenageado, só seus feitos, através de
outras pessoas, da imprensa ou da história.
Mas a distância,
não só espacial, mas muitas vezes temporal, não nos impede de nos relacionarmos
com o homenageado dialógica e amorosamente, pois a admiração e o respeito
também são formas de amor. Neste caso também, podemos dizer; o que fizestes é
muito importante para mim, assim tu também o és. Quero que saiba que seu
exemplo faz com que eu o ame.
Ora essa doação
de si, quando realizado no encontro entre Deus e o homem, é que, numa
perspectiva dialógica e existencial, chamamos de Graça.
A graça é o amor
infinito e ilimitado de Cristo aos homens, que em sua morte na cruz pede ao Pai
o perdão para seus algozes. É este amor, a que chamamos de Graça que vivifica
todo seu Corpo Místico e, que espera dos homens uma resposta amorosa. E esta
resposta o homem a dá quando põem em prática, em sua vida, os mandamentos de
Cristo. Foi o próprio Cristo que nos disse; “quem me ama cumpre os meus
mandamentos”.
O homem declara
seu amor, quando amando a Deus sobre todas as coisas, o faz doando-se no
serviço dos irmãos e, participando da vida da Igreja através dos Sacramentos.
Numa
determinada comunidade, onde impera a lei da amizade e do amor, quando um de
seus membros age erradamente, mesmo que os outros não o saibam, um clima pesado
parece prejudicar o bom relacionamento existente nesta comunidade; é o que
acontece no Corpo Místico, quando o pecado prejudica a livre circulação da
Graça entre seus membros.
A Graça de Cristo
que nos une aos nossos irmãos e ao nosso Salvador pode ser maculada pelos
nossos pecados, assim evitar os pecados deve ser o mais importante objetivo de
nossa vida.
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