5. - A celebração da missa e o mistério eucarístico.

        5. - A celebração da missa e o mistério eucarístico.

        Sendo os sacramentos sinais sensíveis e eficazes da graça, na celebração litúrgica da santa missa, nós nos deparamos frente a inúmeros atos simbólicos que culminam no ato consecratório.
         Na consagração, momento central de toda a celebração, o celebrante pronuncia sobre o pão e o vinho ofertados pela comunidade e que se encontram sob o altar as palavras consecratórias e, se realiza o milagre da presença eucarística de Cristo.
         A presença eucarística de Cristo acontece miraculosa e misteriosamente; nela acreditamos por nossa fé nas palavras e no testemunho do próprio Cristo, está acima de nosso entendimento e, portanto, não podemos compreendê-la. Perante tal milagre devemos permanecer numa atitude de reverência e adoração e, darmos glória ao Senhor.
         Mas, perante o milagre da Eucaristia, o homem em sua busca por compreensão, mesmo do que está acima de sua capacidade intelectual, procura elaborar várias teorias que o permitam compreender melhor tal milagre.
        Dentre essas teorias, a transubstanciação foi a que mais se difundiu no seio da Igreja católica. Baseada em princípios da filosofia aristotélica-tomista ela nos diz o seguinte: quando um sacerdote ordenado celebrando o sacrifício eucarístico pronuncia sobre as espécies do pão e do vinho as palavras da consagração, estas mesmas espécies são transubstanciadas no corpo e no sangue de N.S. Jesus Cristo.
        Com a consagração, sobre o altar não mais se encontra a substância do pão e do vinho, mas sim o corpo e sangue de Cristo, porém os acidentes (as aparências) permanecem. Conserva-se a forma, a cor, o sabor, o odor do pão e do vinho, etc., de forma que para aqueles que não possuam a fé no ritual consecratório, nada teria acontecido e continuaríamos a ter no altar apenas pão e vinho.  
        Enfatizando não a transubstanciação em si, mas a fé do crente que lhe permite ver além dos sentidos corporais elaborou-se a teoria da transignificação, pela qual o crente perante a hóstia consagrada consegue ver através da fé algo que aos sentidos deixados sem a ajuda espiritual não seria possível.
        Na hóstia consagrada o fiel reconhece a presença real de Cristo eucarístico. As mesmas porções de matéria que antes significavam apenas pão e vinho, agora, após a consagração adquirem um novo significado. O Fiel crê, sem qualquer dúvida, estar na presença do próprio Cristo.
         Eu não vejo qualquer dificuldade em reconciliar transubstanciação e transignificação. São apenas duas interpretações complementares sobre a mesma realidade mística, senão vejamos:
         - se ao focalizarmos a realidade eucarística nos limitarmos a doutrina da transubstanciação corremos o risco de objetivarmos, ou melhor, dizendo, coisificarmos a hóstia consagrada supondo ter encontrado a solução para o problema da natureza desta mesma hóstia. Ora isto, nos faz abandonar a dimensão misteriosa que é própria do mistério eucarístico e analisá-lo como um problema. Deixaremos de tratar este mistério numa relação Eu-Tu para tratá-lo numa relação Eu - isto.
        - por outro lado se focalizarmos esta mesma realidade pela doutrina da transignificação este perigo deixa de existir. Isto porque sendo próprio do homem atribuir significado as realidades com que entra em contato, no caso da hóstia consagrada o significado que lhe atribuir somente é válido levando em consideração o aspecto misterioso da Eucaristia.
         - entre os significados que geralmente se atribui a santa missa é o de um banquete sacramental, que prefigura o banquete de que iremos participar na eternidade, desde que correspondamos a nossa vocação à santidade.
           - ao considerarmos a santa missa como um banquete sacramental, devemos reconhecer que quase todas as religiões primitivas incluem entre seus rituais uma ceia sagrada, em vista da facilidade com que ela se institui como símbolo. Devemos também notar a semelhança que acontece entre a ceia dos essênios e a ceia cristã.
            - A ceia dos essênios, presidida por um sacerdote, praticada apenas para iniciados, superava a idéia de família, porquanto era de celibatários. Nela se benzia o pão e o vinho. A idéia de um banquete messiânico, na oportunidade da chegada do Messias, fazia da ceia sagrada uma prefiguração do mesmo. (Enciclopédia Simpózio - Prof. Evaldo Pauli). 
           Pela Fé o homem acredita na presença eucarística de Cristo e, estabelece com ele uma relação do tipo “Eu-Tu”, uma relação amorosa e pessoal com Cristo, cabeça do Corpo Místico e, ao mesmo tempo relacionando-nos com os outros membros do próprio Corpo Místico. Esta relação realizada no seio do Corpo Místico, aprofundando a relação dialogal e amorosa “Eu-Tu” entre Deus e o homem, preserva toda a mística do Sacramento Eucarístico e intensifica a ação da graça.
           Participando do banquete eucarístico e alimentando-se com o alimento sagrado, que é a hóstia consagrada, o fiel adquire coragem e força suficiente para testemunhar sua Fé, vivendo no meio do mundo como um verdadeiro apóstolo, sempre iluminado pelo Espírito Santo.
             As explicações doutrinárias como as doutrinas da transubstanciação ou transignificação são importantes para nos clarificar nosso entendimento do mistério eucarístico. Mas, o importante mesmo é acreditarmos neste mistério e procurarmos com o mesmo nos relacionarmos existencialmente, sem tentar resolve-lo.  


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