10. – Vocação à Santidade

10. – Vocação à Santidade

          A vocação é um chamado de Deus aos homens; a todos os homens, não somente aos cristãos. Deus quer que todos sejam santos, mas embora universal este chamado é dirigido a cada um em particular, é um chamado pessoal.
           Cabe ao homem responder; sua resposta vai depender das circunstâncias históricas, sociais, culturais e religiosas de sua existência. Mas, ele deve responder consciente e livremente, nada pode determinar esta resposta.
           O caminho para a santidade é longo e tortuoso, mas, nenhum obstáculo deve impedir o homem de responder a sua vocação. Muitas são as escolhas que podem ajudar o homem a conseguir seu objetivo, são as vocações específicas que determinam cada modo de vida no viver religioso.
            Uns procuram alcançar a santidade na vida familiar, sendo fiéis aos compromissos matrimoniais, outros a procuram na vida consagrada, outros ainda a querem alcançar como leigos engajados na pastoral ou em atividades sociais.
             Entre todas estas vocações, uma merece nossa atenção especial; a vocação sacerdotal.
              Desde os tempos pré-históricos que alguns homens são escolhidos para de alguma maneira estabelecer ligação entre o plano natural e o sobrenatural. Estes homens recebem vários nomes; xamã, pajé, médium, druida, brâmane, sacerdote e outros.
             No Hinduismo os brâmanes ou sacerdotes representavam a classe mais elevada da sociedade e se consideravam nascidos da cabeça do Deus Brama. O sacerdócio, portanto, era hereditário e detinha todos os poderes de sua sociedade.
       O bramanismo é ritualista, isto é, as cerimônias têm eficácia por si mesma, independentemente da crença e da intenção de quem as pratica.   
        No islamismo não existe uma estrutura clerical semelhante à existente nas denominações cristãs, existe, contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominados ulemás.
       No xintoísmo o sacerdócio é também exercido por mulheres. Os sacerdotes têm como principal função servir e adorar os kami e servir como um elo entre eles e os crentes através da execução dos ritos nos santuários.  
      Os sacerdotes repartem-se em várias categorias. A mais elevada é a de Princesa consagrada ao Kami, uma princesa virgem da família imperial. Em seguida temos o Grande Sacerdote, à frente de cada santuário e, depois o restante clero que se reparte por funções diferenciadas. 
        No zoroastrismo o sacerdócio tende a ser hereditário, embora não seja obrigação de que o filho venha a seguir a profissão do pai.
        O grau inferior do sacerdócio é o ervad, para aceder a este grau inicial é preciso conhecer de cor as escrituras do zoroastrismo, bem como a lei. Acima de si encontra-se o mobed e por último o dastur, que é o responsável pela administração de um ou de vários templos.
        No xamanismo que é um tipo de prática religiosa, de cura e filosófica encontrada no mundo todo, seu sacerdote é o xamã, que entra em transe durante rituais xamânicos, manifestando poderes aparentemente sobrenaturais e, invocando espíritos da natureza. O xamã pode ser homem ou mulher. Encontramos sacerdócio similar ao dos xamãs em diversas culturas e práticas religiosas, inclusive nas religiões afro-brasileiras e nas indígenas (os pajés).
         No cristianismo, em particular nas vertentes católica e ortodoxa, o sacerdócio é exercido em três ordens; bispos, presbíteros e diáconos. Os graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o de serviço (diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado ordenação, isto é, pelo sacramento da Ordem. Nas igrejas evangélicas, o sacerdote é chamado de pastor e existe uma grande diversidade de modos pelo qual o sacerdócio é exercido, dependendo da denominação eclesial à qual pertence determinado sacerdote ou pastor.
         Vamos agora aprofundar nossa reflexão sobre o sacerdócio ordenado; não sem antes dizer que a missão do sacerdote, independentemente da religião a qual pertença, é digna, sublime e necessária para a vida de toda a comunidade.
          O caminho que leva ao sacerdócio começa pelo chamado, pela vocação sacerdotal. Aquele que para tal é vocacionado, sente-se chamado, sem saber o porquê, pelo próprio Deus para abraçar existencialmente sua vocação. Sua resposta deve ser contínua e crescente: no início, apenas um leve desejo de se tornar sacerdote; se, este desejo não é alimentado com orações, meditações e participação nos sacramentos, logo se definha, enfraquece e acaba.
             Para atingir seu objetivo, muito é exigido do vocacionado; primeiro a renúncia, renunciar a própria família, seus bens, seus projetos, enfim tudo que o pode prender a uma vida centrada no material para começar uma nova vida. É preciso uma conversão. 
             Depois vem o estudo, muito é preciso aprender: filosofia, teologia, exegese, moral, liturgia, direito canônico e muito mais. Mas esse estudo não pode ser encarado como o estudo de quem cursa uma faculdade ou um curso técnico para adquirir conhecimentos a fim de tornar-se um bom profissional, para quem
o estudo significa algo importante para a própria realização social, fornecendo-lhe meios para melhor se colocar na sociedade. Nesse caso, o estudo dá status.
              Para quem quer ser sacerdote o estudo é muito importante, mas não é o mais importante. Existem pessoas consagradas, ou mesmo leigos que têm um conhecimento igual e às vezes, até maior que muitos sacerdotes. Por falar em vida consagrada, muitos há que além de serem chamados ao sacerdócio, o são também à vida consagrada. Para estes mais importantes que os estudos é aprender a viver em fraternidade e a cumprir os votos de sua ordem ou congregação. 
              Mais que o estudo ou as obrigações da vida fraterna, o candidato ao sacerdócio deve se preparar interiormente para estar apto ao exercício de sua missão, isto é, participar misticamente no sacerdócio de Cristo, daí a importância do diretor espiritual.
                É missão sacerdotal estabelecer a ponte entre Cristo e seus fiéis. Na Igreja Universal é a missão do Papa; nas igrejas diocesanas, dos bispos; nas paróquias, dos párocos; em outras comunidades, dos presbíteros que a presidem. (Múnus sacerdotal).
                 É missão sacerdotal orientar os fiéis, pelo anúncio do Evangelho e pela denúncia das injustiças. (Múnus profético).
                  É missão sacerdotal governar e legislar para aqueles que estão sob sua autoridade. (Múnus pastoral).
                  O candidato ao sacerdócio prepara-se para sua ordenação com muito carinho e zelo, nesta tarefa muitos o ajudam. A cerimônia da ordenação é muito bonita e significativa, os que a assistem pela primeira vez ficam encantados. Nela tudo fala de Deus e dos compromissos que o neo sacerdote assume ao aceitar o sacerdócio. Fala, também, da necessidade de conversão, de direcionar toda sua vida ao serviço de Deus, da Igreja e dos irmãos. É uma escolha radical que compromete todo o seu futuro viver.
                 Se a cerimônia da ordenação é marcante e causa profunda impressão, não só no futuro sacerdote, mas até mesmo naqueles que apenas participam assistindo o ritual litúrgico, ela torna visível apenas o aspecto exterior e histórico da própria ordenação. No seu mais profundo interior, no seio do Corpo Místico, a ordenação sacerdotal apresenta um aspecto místico e eterno, no qual um membro do Corpo Místico, aquele que está sendo ordenado, recebe por ação do Espírito Santo o caráter sacerdotal. A partir deste instante é misticamente marcado por este caráter por toda a eternidade e que nunca será apagado. “Tu és sacerdos in aeternum.” Como é proclamado na liturgia da ordenação sacerdotal.
                Quão maravilhoso é o sacerdócio, cuja eficácia de seus atos depende do próprio Cristo e da intenção do ministro (sacerdote) que os pratica, não de sua santidade. Quando um sacerdote, mesmo vivendo imoral e pecaminosamente, administra um sacramento este é eficaz e confere a graça de Cristo para aquele a quem o sacramento é aplicado. Isto porque o verdadeiro e único sacerdote é o próprio Cristo, o sacerdote que se encontra presente apenas participa no sacerdócio de Cristo; é apenas o instrumento de que Cristo se utiliza para tornar visível no tempo, o que realiza na Eternidade.
                Quem une misticamente o natural ao sobrenatural, a matéria ao espírito, a criatura ao Criador é o próprio Cristo. Quanto ao sacerdote cuja missão é a mais sublime de todas que são conferidas ao homem, é apenas instrumento, sem qualquer valor, nas mãos do Salvador.

Na Igreja Católica: O sacramento da ordem comunica “um poder sagrado” que é o próprio poder de Cristo, seu exercício deve, pois, ser medido pelo modelo de Cristo que, por amor, se fez o último servo de todos. (Catecismo da Igreja Católica – nº. 1548).

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