3 – Eternidade

3 – Eternidade
         (este tópico foi transcrito do livro “Reflexões sobre a Essência do Homem” do mesmo autor).

             “Platão transmitiu o paradoxo do presente instantâneo dizendo que nem é movimento, nem repouso”; está no meio de ambos, constitui o seu ponto de encontro (Parm., 156d).- “ Logos vol. IV 412”.   

              Seres temporais é nossa tendência o considerar todos os acontecimentos exclusivamente sob o aspecto temporal Devemos tentar superar esta tendência, quando tencionamos uma melhor, embora imperfeita compreensão do que, de certa maneira, relaciona-se com o Eterno.
              Não se pode reduzir a noção de Eternidade a uma infinita sucessão de instantes. Seria reduzir a Eternidade a tempo, sendo este infinito.
             Eternidade transcende tempo e espaço, eternidade é imanente ao tempo e ao espaço. Porque transcendente, o eterno é completamente diverso do espácio-temporal; porque imanente, o eterno é sustentáculo  do espácio-temporal.
             A consideração das noções de espaço e de tempo, não nos permite conceber o eterno. Apenas, nos permite constatar o ser totalmente diverso. Porém, sendo o eterno imanente ao espácio-temporal, evidentemente existem pontos de contato.
             É no mais profundo da essência humana, na espírito-corporidade do homem, que encontramo-nos frente a estes pontos de contato. É no interior do ser humano, que encontraremos os elementos necessários para uma, imperfeita é verdade, mas, válida noção de eternidade. Existindo no espácio-temporal, somos dotados de espacialidade e de temporalidade, é partindo dessas noções, que nos será possível chegar àquela de eternidade.
             Transcendendo ao espaço, o eterno é inextenso ou, melhor contém concentrado em si toda a imensidade espacial. As dimensões do espaço no eterno, não se estendem ao exterior, mas convergem-se no interior. Poderíamos afirmar que o eterno é espaço sem dimensões, contendo em si todas as dimensões do espaço em que existimos. A aparente absurdidade dessa afirmação é devida ao fato de que, existindo no espaço, estamos acostumados a conceber a eternidade com as mesmas características do espaço, o que é, não apenas aparentemente, mas realmente, absurdo.
             No espaço, a relação de espacialidade que torna próximo do meu “eu - interior”, objetos distantes aos quais dedico minha atenção, é pálida imagem das relações espaciais entre seres na eternidade, Na relação de espacialidade, o contato se estabelece entre o meu interior e o exterior de outros seres e, mesmo quando o contato é de interior para interior, no caso da intuição amorosa, ainda permanece algo de exterior, devido a extensão material dos seres espácio-temporais. Na eternidade, as distâncias são totalmente supressas, sem, necessariamente serem destruídas.
           Devido à temporalidade, no instante presente encontram-se de certa maneira o passado e o futuro. No temporal, nosso agir atual é construído sobre o acontecido, influenciado pelo projetado. Os instantes que na sucessão temporal existiram ou irão existir no presente, neste instante estão sepultos no passado ou esperam para existir no futuro, Relacionam-se é verdade, com o instante presente, mas, do mesmo se distinguem como o ser se distingue do não-ser.
           Na eternidade, passado e futuro são palavras sem significado, No presente, todos os instantes se encontram e coexistem. Não afirmo a inexistência de duração eterna; afirmo o eterno presente.
          No temporal um ser é o que ele é neste preciso instante, síntese no presente, do que ele foi no passado, do que projeta para o futuro. Mas, passado e futuro não coexistem no presente, apenas condicionam o presente. O existente é o ser neste preciso instante.
         No eterno, em cada instante, o ser encontra-se presente em sua totalidade. Não existe nem passado, nem futuro. Porque o “passado” permanece presente e o “futuro” já é presente. Em cada momento da eternidade, a duração total de cada ser se concentra;
         Presença total e eterna, concentrando em si a imensidade espacial e a duração infinita, eis a eternidade.
         Porque na eternidade presente, passado e futuro, cedem lugar ao presente eterno; porque todos os instantes da duração encontram-se  em cada instante e, porque o espaço concentra-se no não-dimensional, os seres conservam-se imutáveis em seu estado, conquanto o dinamismo amoroso e criador de sua existência cresçam incessantemente.

          Na eternidade, a imutabilidade não significa inação, mas, contém em si agir no mais alto grau, em comparação com o qual, o agir no espácio-temporal é realmente inação.   

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